ONTEM FOI DIA DE SAUDADE AO QUADRADO

Ontem não foi um dia fácil! Era o dia de aniversário do meu avô materno e do meu grande amigo Fernando. As saudades transformaram-se em dores físicas (devido à minha inimiga com quem diariamente luto e tento vencer - um dia mais tarde irei apresentá-la!).


O meu avô…
Na minha infância e principalmente durante o tempo da Escola Primária eu tinha aulas só de manhã. Os meus pais trabalhavam, não haviam os ATL's que existem nos dias de hoje e os meus avós que estavam entre nós também trabalhavam. Fui uma sortuda! Tive os melhores centros de atividades que podia ter tido e que muito contribuíram para a minha formação pessoal. 
A minha avó Lucrécia trabalhava na loja de roupa da minha tia e o meu avô Carlos era sapateiro e tinha uma oficina. Os seus locais de trabalho ficavam a poucos metros de distância um do outro, no bairro do Tróino o que possibilitava que eu passasse o meu tempo livre entre um local e o outro. 
Na oficina do meu avô enquanto ele fazia o seu trabalho contava-   me a história de cada par de sapatos, entre outras, e entravam sempre pessoas que vinham simplesmente cumprimentá-lo e que por lá ficavam a dar dois ou três dedos de conversa que eu absorvia. E que histórias e vivências tão ricas partilhavam… Naquela oficina fosse verão ou inverno eu tinha sempre muita sede. A água fresca que o meu avô me dava da bilha de barro que lá tinha refrescava-me a alma.
O meu avô e nós perdemos a nossa avó Eduarda precocemente e, por isso,  vivia sozinho. Ao domingo eu a minha irmã íamos almoçar a sua casa. Ele ia buscar um frango à churrasqueira que ainda há perto da Fonte Nova e trazia-nos sempre para bebermos um Sumol de laranja que pelo caminho comprava na taberna do bairro. Aquele sumo tinha um sabor único e que nunca mais consegui sentir em qualquer um que beba e até da mesma marca. 
O meu avô tinha um sentido de humor extraordinário. Certo dia foi assistir a um espetáculo do meu pai que no final lhe perguntou se ele tinha gostado e a resposta dada foi "até de graça é caro!!". E esta expressão é utilizada ainda por mim, por nós e até pelos atores que trabalharam com o meu pai.





O meu Fernando…



O Fernando Guerreiro tinha uma grande paixão que era comum à do pai: o Teatro e foi essa arte que começou por uni-los e daí construiu-se uma amizade muito forte que o trouxe para a nossa família.
O Fernando estava sempre lá: nos aniversários, no Natal, na passagem de ano, nos Magustos, no dia em que recebi a primeira Comunhão e o Crisma, na minha queima das fitas, no meu casamento…
Ele tratava-me como uma filha e fui mais uma vez abençoada porque tinha comigo alguém que me amava e que várias vezes expressava ter em mim um grande orgulho "a minha Susana".
Em cima do palco ao lado do meu pai faziam uma dupla em que o texto base era sempre alterado pela improvisação que a cumplicidade que tinham lhes trazia. 
Divertimo-nos tanto juntos… Impossível não estarmos felizes junto do nosso Fernando!! Nem o barulho das "criancinhas" lhe tirava o sentido de humor.
Era a sua companheira de leitura dos poemas da nossa querida Alexandrina e ensinou-me a dizer poesia como só ele sabia fazer.
Quando o meu pai nos deixou sofremos em conjunto. Mas não estávamos prontos para logo a seguir vivermos com a sua partida.




Sei que lá em cima estão a olhar por nós e eu sinto tanta vez essa vossa proteção. Obrigada avô, obrigada Fernando! Ontem o céu esteve em festa… e nós em modo de saudade!



2 comentários:

  1. Há quem diga, que passado é passado e que só querem saber do presente e do futuro, mas eu tal como tu, temos muito orgulho no passado, foi vivido com pessoas muito interessantes, que fez de nós o que somos hoje e do qual temos orgulho e muito prazer em recordar, tiveste a sorte de teres tido dois avós muito presente, porque os outros dois partiram muito cedo, mas o avô Carlos e a avó Lucrécia adoravam as suas meninas.
    O nosso Fernando, um dos amigos mais presentes na nossa família, e o que nós nos divertíamos, tão bom que era. Nunca os iremos esquecer.

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