PÁRA TUDO: ESTÁ A CHEGAR O CARNAVAL - PARTE I

O Carnaval esteve sempre presente na minha vida. Aprendi a viver, no dia a dia, no meio de fatos e adereços que faziam parte dos personagens que o meu pai criava e representava. E que fascínio eu tinha para com esse mundo!
A minha mãe sempre teve umas mãos de ouro  (e cada vez mais brilhantes) e fazia as roupas para tanto eu como a minha mana vestirmos no Carnaval. Íamos quase sempre ao fotógrafo tirar a fotografia da praxe  (que guardamos com muito carinho) e quando andávamos pelas ruas, algumas pessoas paravam para ver de perto as nossas fatiotas. Naquela altura também havia o hábito do aluguer de fatos e ainda o fizemos, uma vez, no amigo e mestre Ajuda (as idas à sua casa eram um delírio). Os meus olhinhos brilhavam ao ver tanta roupa linda.  A escolha não era nada fácil. Alugámos um fato de saloia para a minha irmã e de noiva do Minho para mim  (senti-me uma verdadeira mordoma mas só que sem ouro!).
No dia de Carnaval lá íamos até Sesimbra ou ao Montijo assistir a um corso (o meu pai detestava aquela confusão mas lá nos fazia a vontade).
Havia sempre uma virose ao virar da esquina, bem perto desta época festiva...
Será que o Carnaval na minha vida parou na infância? Quem me conhece bem sabe a resposta.






Atenção: a minha boca aberta era para prevenir que o Baton saísse!


O TEU SORRISO É O MEU SORRISO...

Meu pai

Ontem o dia foi emocionalmente difícil, dos mais difíceis desde que nos deixaste.
Chorei muito, a saudade feriu e eu só queria poder recuar no tempo e parar. Ficar parada bem juntinha a ti.
A nossa Ana, tua grande companhia (a filha que todos conheciam) tem vivido numa grande luta interior. É impossível aceitar que não estás. 
A tua companheira de vida tem dedicado grande parte do seu tempo a um teatro muito seu, em que produz, com a sua criatividade e perfeccionismo verdadeiras obras de arte na construção de guarda-roupas, adereços... Tu ias ficar fascinado e orgulhoso.
As tuas netas estão crescidas, lindas e a mais nova que já não conheceste tem os teus olhos. Sabe que o seu avô materno era uma pessoa muito especial. Fazias de tudo para as ver felizes.
A tua filha mais velha não conseguiu superar  a tua perda e ficou mal acompanhada, com uma fibromialgia (não ias aguentar ver o meu rosto de dor, nos dias em que a máscara não as tapa).
Temos sofrido muito com a perda do nosso Paulo (cuida bem do meu compadre)... Como foi possível levarem-no tão cedo de nós??
Um dos teus maiores medos é que fosses esquecido. Isso nunca vai acontecer.
Se visses os bonitos testemunhos que os teus amigos nos deixaram ontem, no dia do teu aniversário (um grande bem-haja a todos, ajudaram a acalmar os nossos corações)!
Eu sinto-te cada vez mais presente em mim: nas minhas expressões faciais, no meu modo de falar, de andar...
Pronto, já limpei as lágrimas e no meu rosto vou colocar um sorriso como o teu! Eu sei que estás a olhar para nós e a sorrir com o teu olhar terno….

P.s. - o teu Benfica deu-te uma bela prenda de anos: venceu o jogo de ontem!

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HOJE SÓ QUERIA UM ABRAÇO TEU!

O dia 25 tem muita magia. Foi o dia em que tu nasceste e eu também. Hoje farias 69 anos meu querido pai.
Nunca gostaste de celebrar esta data. Era sempre um dia em que te fechavas no teu mundo e nas tuas saudades...
No teu 63º aniversário já estavas muito debilitado com a malvada doença. No fundo sabíamos que seria o último. 
Fiz-te um bolo com a decoração alusiva ao teu Vitória de Setúbal. Cantámos os parabéns, sempre com as tuas netas que tu tanto amavas (amas!) a teu lado e que prolongavam o apagar das velas 1, 2, 3 vezes e eu já não aguentava mais... Precisava de chorar. Doía tanto saber que no próximo ano (quase de certo) não estaríamos fisicamente juntos neste dia.
Hoje só queria um abraço teu, um beijo na testa... Sentir-te e ter-te bem junto de nós! 






NEVE AO VIVO... FINALMENTE!

A mãe das minhas filhas (euzinha!), no ano passado, no feriado do 8 de dezembro resolveu com o seu marido levar as meninas a passar o fim de semana à Guarda, de forma a irem até à Serra da Estrela. O grande objetivo era conhecerem a Dona Neve. Mas ela pregou-nos uma partida: não apareceu. Nem me lembrei de verificar se haveria neve nessa altura... Para além de não haver neve estava um nevoeiro bastante intenso na torre que não nos deixava ver nada (a não ser nós próprios) acompanhado duma ventania que quase nos proporcionava um voo que também não tínhamos reservado.
Os olhinhos tristes das minhas meninas partiam-me o coração.
Eu só vi neve pela primeira vez já com os meus 20 anos, numa excursão em que fui com duas amigas da faculdade e queria muito que a ida à neve fizesse parte das recordações de crianças, das minhas princesas.
Voltando à primeira ida até à serra, valeu a pena pelos momentos felizes que as saídas em família nos proporcionam. Conseguimos apanhar um belo nevão (mas de neve artificial) na Aldeia Natal que estava instalada no centro da Guarda.
Ontem voltámos lá mas com consulta vezes sem conta da previsão meteorológica e a indicação de existência de neve na página da estância de ski (apesar de termos levado equipamento só para sku).
Que euforia sentiram as minhas filhas quando começaram a vislumbrar os primeiros pedaços de neve e ao pisarem a neve, os seus olhos brilhavam bem mais do que o Sol que apareceu também para nos dar as boas vindas.  
Todos escorregámos e bem! Divertimo-nos tanto... Parecia que estávamos no cenário inclinado e eu fui perita nas quedas.
Na Torre encontrámos a amiga Geni com a sua simpática família.
O dia terminou com alguma roupa molhada (só me lembrei de levar outra muda de roupa para as filhas)!
E desta vez até levei a geleira (fiquem descansados que trouxe neve que dá para distribuir por todos...)! Brevemente começarei a fazer a entrega da mesma. 
No ano passado só encontrei este pedaço de gelo 

Há neve que chegue para todos!

Fim da viagem à serra. Havemos de voltar…


PEGUEI NO COMANDO DA TV E... RECUÁMOS AO PASSADO!

Aqui por casa quando a D. Susana pega no comando da televisão o meu pessoal treme: ou porque seleciono um programa que mais ninguém quer ver ou porque como por magia consigo desconfigurar tudo e mais alguma coisa!
Mas no sábado passado não foi isso que aconteceu. Em vez de carregar no botão do comando que coloca o som, no ecrã surgiu uma imagem que as minhas filhas nunca tinham visto e que me deixou em estado de euforia. Lá pensavam elas que desta vez é que a mãe se tinha passado de vez, mas não! Redescobri por engano o teletexto que tantas vezes utilizei. Ainda não tínhamos o acesso dos tempos de hoje à internet e era nesta opção que: lia as últimas notícias, consultava a programação televisiva, via os números do totoloto (esta opção não me dava grandes alegrias), consultava as previsões do meu signo para não ser apanhada de surpresa, encontrava o nome das farmácias de serviço (infelizmente esta informação faz-me sempre muita falta)...
As minhas filhas olhavam para aquela imagem que tem um tipo de letra que não costumam ver nem utilizar no computador e pensavam e diziam "mas que graça tem isto?".
Pois eu fiquei muito contente por recordar tempos que já lá vão.
O teletexto surgiu na RTP na década de 90 e na SIC em 2003. Eu fiz esta viagem no tempo sem marcação prévia mas aqui deixo a sugestão de mostrarem à geração mais nova como conseguíamos com um único clique no comando e sem acesso à internet ter acesso a informações úteis. 
Teletextualizem... Pode ser que aí  por casa gostem.




MAIS UM TESOURINHO - ENTREVISTA PARA A RUBRICA "GENTE GIRA"

Tenho aqui por casa guardados vários recortes de jornal com notícias sobre produções teatrais ou outro tipo de espetáculos em que participei e algumas entrevistas.
Hoje partilho convosco uma entrevista que dei ao jornal "Correio de Setúbal", em dezembro de 2008.
A minha filha mais velha estava incrédula "és mesmo tu mãe?".
Sou mesmo eu minhas ricas filhas. Agora os tempos são outros… E o mais importante é que continuo a ser feliz, com ou sem notícia!!!


MOMENTOS POUCO CONFORTÁVEIS OU TALVEZ NÃO...

Todos nós temos na vida passamos por situações nas quais estamos mais ou menos confortáveis.
Devido ao elevado número de anestesias (e algumas bem fortes) que tenho levado, os meus dentes começaram a dar problemas desde a data da primeira cirurgia, tinha eu 15 anos e só quem me poderia ajudar nesta missão era um(a) dentista.
As idas às consultas desta especialidade causavam-me algum nervosismo. E quando me sentava na cadeira e abria a boca lá surgiam comentários e juízos de valor que doíam mais do que qualquer tratamento (e eu pensava "não foi para isto que paguei consulta!").
A certa altura conheci uma dentista que conquistou a minha confiança mas não a minha carteira!
Até que descobri o Dr. Miguel Valente que com a sua simpatia, profissionalismo e dedicação lá me convenceu a voltar a esta "saga". Tem outra característica que muito me agrada que é o facto de não ter como objetivo ganhar dinheiro às custas do arrastamento de tratamentos. Na quarta-feira, depois de uma consulta de rotina em que mais uma vez pedi ao Dr. um milagre dentário, ele fê-lo e em jeito de brincadeira disse-lhe "até merece uma postagem no meu blogue" e aqui está ela!
É   bom  poder   falar   bem  de   profissionais  de   saúde. Obrigada  Dr. Miguel pela sua paciência para com esta sua paciente tagarela e a quem nem o aspirador lhe tira o pio!



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O NAMORADO DA MINHA VIDA

Apesar de me considerar uma pessoa sociável, na adolescência a minha vida teve sempre focos muito definidos e nos quais nunca surgiu um namorado. A minha avó materna já achava que eu seria eternamente solteira (o que respeito muito e podia ter acontecido!).
Isto não quer dizer que não tenha sentido uns cliques no coração mas daí não passava (se calhar o acumular de alguns desses cliques ajudou ao aparecimento das arritmias e taquicardias que tenho).
Até que no esplendor dos meus 21 anos o coração sentiu um abanão maior... Foi estranho porque percebemos logo que o abanão era mútuo e tombámos de amor um pelo outro. E estamos juntos há 20 anos!
Hoje a comemoração vai ser bem caseira pois tenho um braço imobilizado mas vamos estar em família a celebrar a seta certeira atirada pelo S. Valentim.




DIA DE PARAR... ASSIM MANDA A SAUDADE!

Hoje era o dia do teu aniversário. A tua partida física ainda parece irreal. Oiço a tua voz muito viva dentro de mim (não me têm chamado de comadre! E ainda oiço o teu  "ó mulher" que me dizias quando eu te contava as minhas peripécias que ouvias com uma paciência só tua!). Ainda paro na rua por pensar que te estou a ver ao longe… e dói tanto perceber que afinal foi uma miragem porque queria muito que tu estivesses aqui.
As 24 horas deste dia vão ter de passar (mas vai ser muito lentamente porque as memórias são muitas, trazem a saudade e eu vou parar para as recordar).
Há dias, ao ver álbuns de fotos vi que tu estiveste sempre lá: nos bons e maus momentos e a sensação que tenho é que te conheci desde sempre.
Será que o céu hoje está em festa? De certo não vai faltar o pão de ló da tua mãe que deve estar junto a ti. Aqui iremos continuar a unir-nos num amor sem fim com aqueles que mais amavas.


COZINHAR FAZ-ME DOCEMENTE BEM!

Uma das formas que tenho para descontrair do stress acumulado durante a semana é cozinhar... O problema é que este meu "escape" não é muito saudável para quem me rodeia e até para mim porque o que mais gosto de fazer são bolos e sobremesas.
Hoje já fiz queques de Nutella (receita da Clara de Sousa) e daqui a pouco vão para o forno umas queijadas de leite. Aqui fica o link da receita dos queques (fácil de fazer e bem saborosos): 


Antes de ter a fibromialgia fazia os bolos de aniversário do meu pessoal com a técnica do cake design (apesar da minha falta de jeito para a parte da Expressão Plástica). De seguida e com votos de um doce domingo deixo-vos a foto dos queques (estão oficialmente aprovados) e dos bolos que mais gostei de fazer.









TEATRO - SEMPRE NA MINHA VIDA - PARTE I

Costumo dizer em jeito de brincadeira que faço teatro desde a vida intra uterina. A minha mãe quando estava grávida de mim estava em cena, enquanto atriz.
Em criança vivi sempre no mundo do teatro que estava presente em todas as esquinas e ruelas. E eu era feliz! E sentia-me especial...
Fui sempre fazendo e ensaiando teatros na escola.
Certo dia, o meu fascínio por este mundo tornou-se mais sério e cresceu como eu (estava a entrar na adolescência).
Fui assistir com o meu pai a uma peça de teatro no Grupo de Teatro Fontenova (atual Teatro Estúdio Fontenova). Naquele grupo estavam grandes amigos da família e era sempre bom reencontrar o Zé Maria e a Graziela. No final do espetáculo qual não foi o espanto do meu pai quando lhe digo: "Pai eu quero fazer teatro. Falas com o Zé para ver se tem um lugar para mim?".
O meu pai há muito que temia esta minha pergunta. Ele não queria mesmo que eu me dedicasse ao teatro mas eu garanti-lhe logo que os estudos seriam a minha prioridade.
A minha entrada foi imediata: uma atriz estava de saída, tinha de ser substituída e lá estava eu pronta para abraçar este projeto.
Nesta companhia tive grandes mestres, fiz grandes amigos e quase sem dar por isso fui-me transformando numa atriz de corpo e alma.
A produção que mais prazer me deu fazer foi "O Solário" de Fernando Augusto. Aqui dei vida a uma doente psiquiátrica que estava internada num hospital da especialidade e que vivia no mundo do além, encarnando espíritos. Que luta me deu a construção da "Adriana".
Anos mais tarde, já eu estava dedicada a outras lides não consegui resistir ao convite de repormos esta peça a convite do Inatel para homenagearmos o autor que entretanto tinha falecido e que era muito especial para nós. E nessa altura representei, tal como a minha mãe, há uns anitos atrás, grávida da minha filha mais velha.
Este foi só o começo de um percurso de vida do qual muito me orgulho e quem sabe um dia volte!


CICATRIZES DA VIDA - PARTE III

Finalmente vai chegar ao fim a terceira parte de um dos mais duros capítulos da minha vida - a minha primeira estadia no Outão (ainda fiz lá mais quatro cirurgias ao pé direito). Quem nasce torto…
As cirurgias foram um sucesso e foi a primeira intervenção em que implementaram um método novo. Tudo o que envolveu o processo cirúrgico e a minha recuperação foi registado em fotografia e foi passado em slide em vários congressos.
Um dos maiores sustos que vivi naquelas três semanas foi quando comecei a perder sangue pelas fezes e não se descobria a razão. Comecei a ficar debilitada, com anemia, tive de colocar uma sonda e a meu lado esteve o Dr. Benjamim que só me largou quando estava livre de perigo. Nesse dia havia a hipótese de ter de ser transferida para o Hospital de S. Bernardo e os meus pais não me queriam deixar por nada. Mas não podiam mesmo lá ficar. Esse médico-anjo disse para irem que passaria a noite comigo e assim foi. O meu pai não aguentava estar em casa com tanto nervosismo e ansiedade e resolveu de madrugada pôr-se a caminho do Outão. O Dr. Benjamim lá veio cá fora fumar um cigarro com ele e tranquiliza-lo.
No dia seguinte descobriu-se que tinha feito uma úlcera de stress e que era essa a causa das perdas de sangue. O meu anjo de nome Benjamim (era uma pessoa tão boa que se transformou em estrelinha cedo demais!!) no dia a seguir levou até mim uma das suas filhas e disse: "Vês filha foi por causa desta menina que o pai ontem não dormiu em casa".
No meio de todo este turbilhão eu lá ia conseguindo manter-me confiante: queria muito ser como as outras jovens!
Outro dia difícil que nunca me saiu da minha memória foi quando ao ter de reaprender a andar, uma fisioterapeuta decidiu levar-me até à praia. Subir aquela escadaria foi terrível: a cada degrau que subia, um lágrima caia…
As minhas companheiras de quarto foram muito importantes e um grande pilar. A Ana e a Filipa ficaram amigas para a vida. Conseguíamos no meio daquele turbilhão de dor e de sentimentos dispares encontrar momentos para descomprimir, sempre aleados ao teatro. Fizemos com cada sessão noturna!
A enfermeira Nazaré, a enfermeira Inácia, a enfermeira Guida e o fisioterapeuta Manel foram pessoas que muito contribuíram para tornar os dias menos difíceis.
Saí do hospital com uma roupa nova e que detestei usar: um colete de gesso que tive de usar durante nove meses. Foi duro, muito duro. A certa altura até tiveram de me fazer uma abertura na zona da barriga por ficar muito mal disposta quando comia. Ninguém imagina o que é dormir com um colete daqueles...
Felizmente que com o avanço da medicina quem faz esta cirurgia coloca um colete que pode tirar nalgumas alturas do dia.
Quando regressei para a casa tinha o meu quarto transformado em enfermaria, mas foi tão bom estar de volta!!
Hoje conto esta história com ligeireza mas só eu sei o quanto ela marcou a minha personalidade e forma de encarar a vida.