No meu corpo tenho várias cicatrizes que representam as diversas cirurgias que a que já fui submetida. Não as escondo! Aprendi a viver com elas e até costumo dizer que no meu corpo tenho traçado um mapa dos rios e seus afluentes… Cada cicatriz tem uma história, de vida.
Fui uma criança muito difícil em relação à alimentação. Não gostava nada de comer. E a minha mãe e avó paterna passaram maus bocados à custa desta minha atitude errada em relação à alimentação. Até há uns meses atrás fui sempre extremamente magra e não tinha massa muscular.
Aos 11 anos, com as alterações físicas inerentes à mudança de idade a minha coluna não reagiu da melhor forma e...
Num dia de verão, no primeiro dia de praia quando a minha mãe me estava a colocar creme protetor viu que algo de errado estava a acontecer na minha coluna devido à saliência que as costelas apresentavam. Marcou consulta de urgência com um ortopedista.
Nessa consulta, a minha mãe começou por referir que a minha avó materna e o meu tio-avô também materno tinham graves problemas de coluna. O médico depois de me observar disse: "Então com tanta gente torta e marreca na família queria que a miúda fosse direita?".
A minha mãe ia tendo "uma coisinha má", eu nem percebi bem o que se estava a passar…
Toca a procurar outro médico e desta vez que fosse especialista em escolioses. Lá encontrámos um médico a quem muito devo e estou grata. Sempre que nos encontramos os nossos olhos brilham…
Este médico (que também tinha o seu feitio especial mas que depois de conquistado se torna numa pessoa bastante atenciosa e comigo, até carinhosa!) ao ver meu rx comunicou-nos que tinha uma escoliose grave com mais de 50 º de curvatura. Recomendou-me que andasse com um colete "Milwaukee" e fizesse muita fisioterapia.
Assim foi e a minha vida de início de adolescência foi muito dura. O colete que usava para além dos incómodos físicos que me causava devido à sua estrutura fez-me principalmente feridas interiores. Não podia praticar as atividades físicas que os meus colegas faziam, tinha a mobilidade reduzida e sofri de algo que naquela altura não tinha ainda sido batizado de "bullying". Ouvi tantos comentários cruéis…
E o pior de tudo é que este sacrifício não estava a valer a pena. A curvatura continuava a aumentar.
Ao chegar aos 65º foi colocada aos meus pais a hipótese da cirurgia com todos os riscos que a mesma podia trazer incluindo a perda do andar. Sempre que se mexe na coluna tal pode acontecer e os meus pais tiveram de tomar, se calhar, uma das decisões mais difíceis das suas vidas…
Continua num dia em que eu consiga voltar a recordar sem dor interior estas minhas primeiras cicatrizes.
Esta fotografia só chegou às minhas mãos
depois de eu voltar a ter uma coluna um pouco mais direita
O colete que me acompanhou durante alguns anos
e que eu via como um "inimigo"