A minha mãe tem em casa guardadas, em objetos ou fotografias, recordações, pedaços da nossa vida.
No domingo pedi-lhe que me fosse buscar alguns álbuns de fotografias para poder partilhar convosco um pouco da minha história. E foi aí, nesse momento que entrou em cena a D. Saudade. Ela até não faz por mal mas sempre que vem consegue apoderar-se do nosso coração, controla à sua maneira as nossas emoções e quando damos por nós... Os olhos inundam-se mesmo que as recordações sejam muito boas porque vimos nessas fotos pessoas que amamos e que já não estão fisicamente entre nós (e cada vez são, assustadoramente e sem respeitar a lei da vida, mais e mais).
Quando olhamos depois em nosso redor e vimos três carinhas que ficam tristes quando nos vêm chorar respiramos fundo e vamos buscar dentro de nós, forças para continuar esta nossa caminhada (mesmo que cada vez mais desamparados).
Termino com o poema que para mim melhor define a saudade e que é da autoria de Jorge Fernando (sempre que oiço estes versos cantados chove dentro e fora de mim!)
CHUVA
As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir
São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder
Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer
A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai, meu choro de moça perdida
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
Há instantes morrera
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
Há instantes morrera
A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade
Meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade