CICATRIZES DA VIDA - PARTE II

No dia 8 de dezembro abri neste meu cantinho um capítulo da minha vida relacionado com as várias cicatrizes que tenho marcadas no meu corpo (se as contas não falham são 8, umas mais pequenas e outras bem grandes!). Cada cicatriz conta a história de uma das 9 ou 10 cirurgias que já fiz (até perco a conta!).
Nessa primeira parte deste capítulo falei-vos de um grave problema de coluna que tive (e tenho!! mas com menos gravidade nos dias de hoje) e esse texto terminou do seguinte modo "ao chegar aos 65º foi colocada aos meus pais a hipótese da cirurgia com todos os riscos que a mesma podia trazer incluindo a perda do andar. Sempre que se mexe na coluna tal pode acontecer e os meus pais tiveram de tomar, se calhar, uma das decisões mais difíceis das suas vidas…
Continua num dia em que eu consiga voltar a recordar sem dor interior estas minhas primeiras cicatrizes."
Hoje estou pronta para retomar esse capítulo. Foi das decisões mais difíceis que os meus pais tiveram de tomar mas sabendo que eu estava em boas mãos e vivendo com o meu sofrimento optaram por avançar (com assinatura de um termo de responsabilidade) para a cirurgia.
Tinha 15 anos... No final do mês de julho surge o telefonema do Hospital da Outão a comunicar o dia em que ia ser internada (07/08/1992) e a data da primeira cirurgia (12/08/1992).
Não era neste  hotel com pensão completa e praia privativa que tinha programado passar as férias mas tinha de aproveitar esta oportunidade.
Nunca estamos prontos, com 15 anos para ficar num hospital (naquela altura mesmo na Pediatria os pais não podiam passar a noite connosco e esse facto tornava-se todos os dias muito doloroso para quem lá estava. Lembro-me tão bem dos gritos de um dos pequenitos que lá estava, na hora da mãe se ir embora!!) e muito menos para lá estar três semanas e passar por cirurgias tão difíceis.
Naquela altura, a ala pediátrica era no rés do chão e tinha uma parte para os rapazes e outra para as raparigas. As noites eram sem dúvida os momentos mais difíceis de passar. Mesmo olhando para aquele teto em que estavam pintadas estrelas de cor amarelo flurescente e ouvindo o som do mar, não conseguíamos deixar de sentir a falta do conforto da nossa casa e do carinho da família.  Felizmente tive duas companheiras de quarto extraordinárias que entravam nas minhas "teatradas" noturnas. Até as auxiliares e enfermeiras se tornavam belas atrizes nesse turno.
Fiz duas cirurgias (a primeira para tirar 6 costelas e parte do osso do ilíaco) e a segunda, uma semana depois para fazer o enxerto na coluna com os ossos já retirados e enfeitando-a com duas varas laterais cheias de laços e araminhos. Costumo dizer que a minha coluna parece uma árvore de Natal. Nestas duas operações entrava no bloco operatório pelas 8 h e saía de lá só por volta das 15 horas. Quando acordava, no recobro, rodeada de máquinas e fios, a primeira coisa que queria era ver os meus pais. E lá caíam aquelas lágrimas… as deles e as minhas! 
As cirurgias correram bem. Comigo tive a melhor equipa médica (desde o meu ortopedista, Dr. Palma Rodrigues, aos seus assistentes, Dr. André e Dr. Benjamim e ao anestesista, o Dr. Lemos). 
Como esta segunda parte já vai longa e ainda há muito por contar, noutro dia, continuarei e finalizarei a história que deixou no meu corpo três grandes cicatrizes mas uma coluna quase impecável (pelo menos bem mais direitinha!).

 Mais uma fotografia que esteve escondida até depois da cirurgia (julho de 1992)






1 comentário:

  1. Filha, estou impressionada com este texto e com a publicação desta foto, que nem me lembrava de sua existência, porque tu deves ter guardado, sei que és forte, mas não te julgava capaz de tanto.

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